O músculo mais importante está na cabeça
Depois de quatro jogos sem acertar na baliza, Cristiano
Ronaldo fez uma partida maravilhosa, marcou duas vezes e foi considerado o
melhor em campo pela UEFA. O atleta cabisbaixo e sem confiança transformou-se no
furacão do costume. Mas o segredo dessa mudança não está nas pernas - está na
mente.
No Euro 2012, Cristiano Ronaldo provou que a diferença entre um bom atleta e
um atleta extraordinário está na cabeça. "O que distingue um desportista
excecional é a resiliência, a forma como tropeça, cai, se levanta e resiste",
diz o psicólogo do desporto Sidónio Serpa. "Os atletas de alta competição
desenvolvem capacidades que lhes permitem reagir bem às situações, controlando
as suas emoções e atribuindo aos problemas um significado de desafio",
acrescenta.
O poder da mente mostra-se, precisamente, nos maus momentos. "Se o
desportista pensa que o objetivo está ao seu alcance, aumenta a confiança,
melhora o controlo sobre a situação e diminui a ansiedade. Se, pelo contrário,
fica convencido de que é difícil ultrapassar o obstáculo, porque tem dúvidas
quanto às suas reais capacidades, sobe a ansiedade e crescem as hipóteses de
falhar na altura-chave", sublinha o catedrático da Faculdade de Motricidade
Humana.
Esta capacidade de superação não é apenas intrínseca. Pode e deve ser
trabalhada. Nos EUA, todos os grandes clubes de basebol, basquetebol e futebol
americano têm psicólogos a acompanhar os jogadores e a fazer relatórios
pormenorizados sobre as suas forças, fraquezas e estratégias a seguir. Por
exemplo, um grito de um treinador pode ter efeitos opostos na sua confiança - e
essa é uma informação valiosa. No conservador mundo do futebol, este lado
psicológico do desporto ainda é muito empírico, mas está a mudar. Simão Sabrosa
teve o apoio de um psicólogo para aprimorar a marcação de livres e penalties; a
seleção portuguesa orientada por Scolari, e que foi à sua primeira final numa
grande competição, era acompanhada por uma equipa de especialistas, que
trabalhava o lado mental dos jogadores e da equipa; o Milan e o Chelsea criaram
mind rooms (salas em que os jogadores visionam os seus falhanços, ligados a
aparelhos de bio e neurofeedback, para aprenderem a controlar a ansiedade); e a
seleção espanhola, historicamente frágil nos grandes momentos, tinha um
experiente psicólogo canadiano nas suas fileiras, quando venceu o último Euro.
A psicologia pode ter um papel decisivo, por exemplo, no lado mental da
marcação de livres e penalties, melhorando a concentração no instante
decisivo.
Um truque comum nestas situações é criar um conjunto de imagens-âncora, que o
desportista chama a si para lhe aumentar o bem-estar. Outro, muito importante, é
a respiração. Expirar profundamente, por exemplo, ajuda a pessoa a sentir-se
relaxada e equilibrada - imagem que, não por acaso, é a marca de Cristiano
Ronaldo, nos segundos que antecedem os livres.
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