21 junho, 2012

A CIÊNCIA DA VITÓRIA



O músculo mais importante está na cabeça

Depois de quatro jogos sem acertar na baliza, Cristiano Ronaldo fez uma partida maravilhosa, marcou duas vezes e foi considerado o melhor em campo pela UEFA. O atleta cabisbaixo e sem confiança transformou-se no furacão do costume. Mas o segredo dessa mudança não está nas pernas - está na mente.

No Euro 2012, Cristiano Ronaldo provou que a diferença entre um bom atleta e um atleta extraordinário está na cabeça. "O que distingue um desportista excecional é a resiliência, a forma como tropeça, cai, se levanta e resiste", diz o psicólogo do desporto Sidónio Serpa. "Os atletas de alta competição desenvolvem capacidades que lhes permitem reagir bem às situações, controlando as suas emoções e atribuindo aos problemas um significado de desafio", acrescenta.
O poder da mente mostra-se, precisamente, nos maus momentos. "Se o desportista pensa que o objetivo está ao seu alcance, aumenta a confiança, melhora o controlo sobre a situação e diminui a ansiedade. Se, pelo contrário, fica convencido de que é difícil ultrapassar o obstáculo, porque tem dúvidas quanto às suas reais capacidades, sobe a ansiedade e crescem as hipóteses de falhar na altura-chave", sublinha o catedrático da Faculdade de Motricidade Humana.
Esta capacidade de superação não é apenas intrínseca. Pode e deve ser trabalhada. Nos EUA, todos os grandes clubes de basebol, basquetebol e futebol americano têm psicólogos a acompanhar os jogadores e a fazer relatórios pormenorizados sobre as suas forças, fraquezas e estratégias a seguir. Por exemplo, um grito de um treinador pode ter efeitos opostos na sua confiança - e essa é uma informação valiosa. No conservador mundo do futebol, este lado psicológico do desporto ainda é muito empírico, mas está a mudar. Simão Sabrosa teve o apoio de um psicólogo para aprimorar a marcação de livres e penalties; a seleção portuguesa orientada por Scolari, e que foi à sua primeira final numa grande competição, era acompanhada por uma equipa de especialistas, que trabalhava o lado mental dos jogadores e da equipa; o Milan e o Chelsea criaram mind rooms (salas em que os jogadores visionam os seus falhanços, ligados a aparelhos de bio e neurofeedback, para aprenderem a controlar a ansiedade); e a seleção espanhola, historicamente frágil nos grandes momentos, tinha um experiente psicólogo canadiano nas suas fileiras, quando venceu o último Euro.
A psicologia pode ter um papel decisivo, por exemplo, no lado mental da marcação de livres e penalties, melhorando a concentração no instante decisivo.
Um truque comum nestas situações é criar um conjunto de imagens-âncora, que o desportista chama a si para lhe aumentar o bem-estar. Outro, muito importante, é a respiração. Expirar profundamente, por exemplo, ajuda a pessoa a sentir-se relaxada e equilibrada - imagem que, não por acaso, é a marca de Cristiano Ronaldo, nos segundos que antecedem os livres.



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