06 janeiro, 2012

O cérebro transforma-se quando aprendemos



Tanto a substância cinzenta quanto a branca aumentam quando adquirimos conhecimento, e isso vale para jovens e idosos


Massa cinzenta aumenta até quando o conhecimento é adquirido em pouco tempo


Adquirimos constantemente novas informações e aptidões. No entanto, os pesquisadores ainda sabem muito pouco sobre o que exatamente acontece durante esse processo: será que o maquinário já existente das células cerebrais é adaptado a cada situação ou unidades de processamento completamente novas são criadas e integradas? Ou seja, apenas a comunicação entre os neurônios se altera ou toda a estrutura do cérebro, o hardware neural, também se modifica durante a aprendizagem?


As células neurais funcionam como unidades processadoras de informações. Seus corpos formam a substância cinzenta, o córtex, que compõe a camada externa do cérebro. Cada neurônio pode receber sinais de outras células, transmitidos pelos pontos de contato, as sinapses, e depois encaminhados ao longo de extensões chamadas axônios. Eles ficam dentro do cérebro, ou seja, embaixo do córtex, e são chamados substância branca. Sua função é ligar os neurônios por longas distâncias, permitindo a comunicação entre diversas áreas.


A cor clara vem da camada de gordura isolante que envolve os axônios. Essa bainha de mielina acelera o encaminhamento dos sinais, contribuindo para uma comunicação rápida sem perdas de dados. O truque decisivo: a bainha mielínica é interrompida a pequena distância pelos nódulos de Ranvier; os sinais praticamente “saltam” de um nódulo para outro. Sem essas interrupções, os sinais se difundiriam mais lentamente e, em trechos mais longos, acabariam por se extinguir. O grau de mielinização, portanto, influencia a velocidade e a força dos impulsos: quanto mais grossa a camada isolante, melhor e mais rápido os dados são transmitidos.


Mas o que isso tem a ver com aprender? O aprendizado, antes de mais nada, baseia-se em uma alteração de comunicação entre as células do cérebro. Assim, é bastante plausível que a substância branca também se modifique quando aprendemos uma nova habilidade motora (como no caso do malabarismo), pelo surgimento de novos axônios ou com uma mielinização mais intensa daqueles já existentes. Dessa forma, os sinais de áreas visuais teriam condição de atingir as regiões cerebrais motoras com mais rapidez, por exemplo. Por isso, dançar, nadar, treinar lutas marciais, jogar tênis ou xadrez, praticar arvorismo ou qualquer outra atividade que mantenha o corpo e a mente em movimento favorece a capacidade neural.
Com frequência pessoas mais velhas acreditam que é difícil aprender algo novo, devido à idade. Porém, um trabalho publicado pelo Proceedings of the National Academy of Sciences demonstra que o cérebro humano adulto é capaz de crescer rapidamente quando exposto a aprendizado similar ao de bebês e crianças pequenas. A responsável pela descoberta é a pesquisadora Verônica Kwok, da Universidade de Hong Kong, na China. Em parceria com outros pesquisadores, a cientista apresentou cartões coloridos (com diferentes tons de verde e azul) a 19 voluntários adultos. A cada cartão foi atribuído um novo nome, e os participantes foram orientados a aceitar essas cores como verdadeiras, passando por “aulas” que duraram menos de duas horas, distribuídas em três dias. Após o condicionamento, o cérebro dos participantes foi analisado por meio de imagens de ressonância realizadas antes e depois do experimento. Resultado: a massa cinzenta havia aumentado. Porém, não ficou claro se a expansão surgiu de novas formações neurais ou se eram simplesmente ramificações dos neurônios já existentes. Estudos anteriores já relacionavam aumento cerebral com aprendizado, mas nunca em um período tão curto. Os cientistas acreditam que a chave da descoberta possa estar na percepção e diferenciação de nomes, algo bem mais complexo que simplesmente decorar uma lista de palavras.

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