22 janeiro, 2016



O trabalho de Paul Ekman é sem dúvida, além de percursor no âmbito da investigação sobre as expressões faciais e as emoções (ver o seu trabalho da década de 1950 - na qual prova que as expressões faciais das emoções são comuns aos seres humanos, independentemente da cultura em que estão inseridos), um contínuo avanço sobre o tema ( mais recentemente, o seu trabalho sobre as micro-expressões da emoção).

Emotions Revealed - KQED QUEST

Utilizando a investigação sobre as micro-expressões da emoção, aplicadas ao enredo de uma série televisiva: o caso de   "Lie to me"da FOX , na qual Ekman foi, inclusivé,  consultor. 



É de tal forma elementar e importante a investigação de Ekman, e vai de modo tão profundo ao que de mais estrutural existe no ser humano, que o seu trabalho tem sido constantemente solicitado.
Como é óbvio, quando se toca em aspectos que revelam o ser humano, como a expressão das suas emoções, a questão de Privado e Público terá que vir à tona. Este é um dos aspectos fundamentais, no manuseamento desta informação científica, e não podem ser descuradas as questões de salvaguarda de privacidade e de protecção de dados, o lado ético que mantém a humanidade, numa era de "estado de excepção" instituído (Agamben, 2005).

E é nesse "estado de excepção" instituído que o seu trabalho mais recente - as micro-expressões da emoção , parece ter ganho maior aplicabilidade. Algo que não parece ser estranho após o "11 de Setembro", especialmente nos EUA, onde se banalizaram as estratégias/medidas  anti-terrorista.
Disponibilizado em Kit (numa abordagem assumidamente comercial e arriscar-nos-íamos a afirmar, emblematicamente americana), que pode ser adquirido online, o utilizador passa por uma prévia formação, veiculada através de informações aí presentes (ou frequentando um curso de iniciação), e torna-se apto a ler as micro-expressões - as expressões escondidas e que não pretendemos revelar conscientemente aos nossos interlocutores.

Esta formação está neste momento a ser dada aos serviços de fronteiras, aos polícias, aos funcionários das agências de investigação nacionais, um pouco por todos os EUA.


Acentua-se a destituição das reservas individuais de privacidade, uma espécie de saque consentido, como refere Agamben (2005).
Como já identificado por Turkle (2006), os jovens de hoje afastam-se do contacto presencial, por o considerarem demasiado inibidor.
A aplicação de ferramentas, como a identificada neste documento, e o modo como o estão a ser, provavelmente, acentuarão também, esta tendência - a da concentração no interior do corpo, de escolher a comunicação mediada por tecnologia à presencial, de evitar o confronto de expressões faciais - o evitar dar-se a ler sem o controlo de todas as dimensões.
Em última instância poder-se-á imaginar, como forma de metáfora, a estratégia de "Surrogates" (Mostow, 2009): corpos cibernéticos usados como substitutos dos verdadeiros organismos, que longe, no conforto das suas protectoras casas, os manobram, interagindo indirecta e seguramente com outros substitutos. Esta seria uma realidade de controlo total de interface, também de interface verdadeiramente externo ao sujeito - uma realidade de interface conscientemente artificial.

Utilizando a investigação sobre as micro-expressões da emoção, aplicadas ao enredo de uma série televisiva: o caso de   "Lie to me"da FOX , na qual Ekman foi, inclusivé,  consultor. Uma realidade assumida e explicada pelo próprio canal FOX, que dedica uma página inteira, online, a esclarecer as noções e funcionamento das micro-expressões, fundamentando cientificamente a sua série televisiva (uma espécie de "fiction-mixing-documentary-type-TV series" - outra abordagem de reality TV?)
A informação que se segue é daí retirada e provém originalmente de (Bolte Taylor, 2009;Leo and Pelton, 1985):


"MICROEXPRESSÕES
O que são as micro expressões? 

Cada vez que uma pessoa mente ou tenta ocultar as suas emoções produzem-se pequenos movimentos involuntários nos músculos faciais que podem deixar a descoberto a mentira. Estes pequenos movimentos, conhecessem-se como micro expressões.

Existem sete tipos de micro expressões universais: alegria, desprezo, espanto, medo, nojo, raiva e tristeza.

Estes gestos são pequenas traições do nosso corpo que revelam os nossos sentimentos ocultos e estão sempre presentes, por mais que os tentemos reprimir. Estas alterações tão subtís do rosto aparecem antes de a pessoa comece a comportar-se de um modo racional.

Apesar disto, nem sempre é fácil de detectar, pois estes são gestos que aparecem e desaparecem numa fracção de segundo e que apenas conseguem ser detectádos por pessoas tenham boa capacidade de observação ou um olho clínico treinado. Para além disto, mesmo que as expressões sejam detectadas, estas apenas nos permitirão saber que a pessoa está a mentir e não sobre o quê e a razão. Por exemplo, não é possível saber se um mentiroso está a ocultar algo voluntariamente ou se está a reprimir um sentimento ou emoção de forma inconsciente sem sequer dar por isso. 

Paul Ekman, é um dos maiores peritos mundiais da área dos micromovimentos faciais e da detecção de mentiras, e autor de obras como What the Face Reveals e Telling Lies: Clues to Deceit in the Marketplace, Politics, and Marriage.








Paul Ekman perito em Microexpressões

Doutor Paul Ekman (1934 -)

Paul Ekman estudou nas universidades de Chicago e Nova York e doutorou-se em psicologia clinica na Universidade Adelphi em 1958. Começou a exercer psicologia clínica no exercito durante dois anos, tendo de seguida começado a trabalhar no Instituto de Neuropsiquiatria Langley Porter, onde permaneceu até 2004. As suas investigações sobre as expressões faciais e os movimentos corporais começaram em 1954. Os seus primeiros trabalhos eram muito influenciados pela sua formação enquanto psicologo, mas no decorrer da década seguinte as suas investigações debruçaram-se também sobre temáticas como os campos de evolução e a semiótica. Para além do estudo sobre as emoções, Paul dedicou-se durante 30 anos ao estudo do engano e dos seus meios de expressão.

Recebeu em várias ocasiões o prémio Research Scientist do Instituto Nacional de Saúde Mental, instituição esta que durante mais de quarenta anos financiou as suas investigações através de bolsas de estudo, subsidios e prémios. Foram publicados numerosos artigos sobre o seu trabalho em revistas importantes e periódicos de todo o mundo como por exemplo: Time, Smithsonian Magazine, Psychology Today, The New Yorker, New York Times e Washington Post. Para além disto, Ekman marcou presença em variados programas de televisão como Larry King e Oprah.

Ekman é o autor de livros como Telling Lies: Clues to Deceit in the Marketplace, Politics, and Marriage (1992); What the Face Reveals (1998); Why Kids Lie: How Parents Can Encourage Truthfulness (1989). É ainda o autor da Terceira edição em inglês de The Expression Of The Emotions In Man And Animals e publicou mais de 100 artigos.
Paul Ekman está entre as pessoas mais influentes do ano de 2009 segundo a revista TIME.
Por Jill Bolte Taylor

Os nossos sentidos percebem tudo o que acontece à nossa volta para de seguida o cérebro processar e converter toda essa informação em pensamentos, palavras e actos. Os nossos actos e palavras fazem sempre acompanhar-se de expressões faciais e de uma linguagem corporal que se podem tornar muito reveladores.

Graças ao trabalho desenvolvido por Paul Ekman, perito em linguagem corporal, facial e na forma como expressamos as nossas emoções, hoje sabemos que os nossos gestos reflectem sempre o que se está a passar no nosso cérebro. As suas investigações, os seus numerosos livros e a sua recente colaboração como assessor da FOX para a série Lie to Me, contribuíram para fazer chegar esta nova disciplina cientifica ao público geral e permitir uma maior compreensão sobre como comunicamos sem palavras. Para além disto, espera-se que o seu trabalho tenha uma aplicação de tremenda utilidade no âmbito legal e na luta contra o terrorismo."



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