Embora usualmente o hemisfério esquerdo seja dominante para a linguagem, o hemisfério direito tem competências significativas na sua compreensão
Um dos aspetos em que as diferenças funcionais entre os hemisférios direito e
esquerdo são mais evidentes diz respeito à compreensão e processamento da
linguagem. As lesões do hemisfério direito só muito raramente conduzem às
alterações da linguagem chamadas afasias.
Em vez disso as lesões do hemisfério direito estão frequentemente associadas
a severos problemas viso-espaciais, como por exemplo a incapacidade de copiar
uma linha de um desenho. Por esta razão, de um modo simplista, o hemisfério
esquerdo é muitas vezes designado o hemisfério verbal enquanto o direito é o
hemisfério espacial.
Os dois hemisférios estão ligados entre si por vários feixes de axónios
conhecidos como comissuras, das quais a maior é o corpo caloso, formado por
cerca de 200 milhões de axónios que ligam os dois hemisférios entre si.
A secção do corpo caloso permite analisar separadamente a função de cada um
dos hemisférios. Curiosamente as primeiras experiências feitas nestas condições
pelo grupo de George Sperry nos anos 50 mostraram que não ocorriam
alterações comportamentais e que os animais tinham uma coordenação de movimento,
reação a estímulos e capacidade de aprendizagem aparentemente normais. Contudo
observaram que os animais por vezes atuavam como se tivessem dois cérebros
separados.
A cirurgia do corpo caloso realizada em certos casos de epilepsia humana
severa mostrou que após a secção do corpo caloso os doentes, embora
aparentemente normais, mostravam uma assimetria na capacidade de verbalizar
respostas a questões colocadas separadamente aos dois hemisférios. O hemisfério
direito manifestava incapacidade de descrever qualquer objeto colocado no campo
visual esquerdo, mas mantinha a capacidade de ler e compreender números, letras
e palavras curtas desde que a resposta fosse não-verbal.
No entanto os doentes eram melhores na resolução de puzzles complexos com a
mão esquerda e em perceber “nuances” de sons.
Estes estudos mostram que os hemisférios atuam como dois cérebros
independentes, com diferentes capacidades de linguagem, que controlam os dois
lados do corpo. Embora usualmente o hemisfério esquerdo seja dominante para a
linguagem, o hemisfério direito tem competências significativas na sua
compreensão.
Presumivelmente no cérebro intacto o corpo caloso permite interações
sinérgicas entre os dois hemisférios para a linguagem e outras funções.
Catarina Resende de Oliveira, Presidente do Centro de Neurociências e Biologia
Celular, e Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
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