Cerca de 90% da população é destra. Se atentarmos às faixas etárias,
verificamos que existem mais jovens canhotos do que idosos canhotos. É que
antigamente os canhotos eram discriminados pela sociedade (inclusive pela
família). E, nalgumas culturas, os canhotos eram considerados seres demoníacos!
Ser canhoto era então um “erro” que precisava de ser rapidamente resolvido. E
assim, devido à pressão social e cultural, muitos canhotos tornavam-se destros.
Felizmente, o estigma de ser canhoto desapareceu.
E antes de nascer? Vários estudos mostram que já somos canhotos ou destros
ainda antes de nascer. A interação entre o património genético e o ambiente
intrauterino determina se nascemos canhotos ou destros.
Comparativamente a casais destros, casais em que um dos pais é canhoto ou os
dois são canhotos têm maior probabilidade de terem um filho canhoto (2-3x e
3-4x, respetivamente).
Ser destro ou canhoto depende da organização (anatómica e funcional) do nosso
cérebro. Como é sabido, o cérebro divide-se em dois hemisférios e cada um deles
controla o lado oposto do corpo (movimentos, sensações). É aquilo a que se chama
de lateralização hemisférica.
Assim, o hemisfério esquerdo é dominante nos destros e o hemisfério direito é
dominante nos canhotos. Além dos genes, o ambiente intrauterino também tem um
papel importante na lateralização hemisférica. Por exemplo, a nutrição e a saúde
da mãe influenciam o desenvolvimento do feto, incluindo o desenvolvimento e a
organização cerebral. Outros estudos mostraram que a exposição do feto a
ultrassons aumenta a probabilidade da criança ser canhota. No entanto, outros
estudos não encontraram qualquer associação entre a exposição a ultrassons e a
incidência de crianças canhotas.
Apesar destas evidências, existem várias perguntas sem resposta. Porque é que
90% da população é destra? Será que a evolução selecionou os destros? Se assim
é, porque é que não somos todos destros?
Mais estudos são necessários para esclarecer estas e outras questões.
Paula Moreira, Investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular, e
Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra
Sem comentários:
Enviar um comentário