Iniciado em 1986, o
Projecto Genoma Humano (PGH) pretende descobrir a localização dos cerca de
trinta a quarenta mil genes humanos, nos 23 pares de cromossomas, ou seja, fazer
a sua cartografia. Além disso, ambiciona conhecer a sua composição, tendo como
objectivo último ordenar os cerca de 3,2 mil milhões de bases químicas (ver
glossário) que compõem todo o nosso DNA, ou seja, o genoma.
Este projecto foi lançado
por um consórcio público internacional, dirigido pelo norte-americano James
Watson, prémio Nobel da fisiologia e da medicina em 1962. Em co-autoria com
Francis Crick e Maurice Wilkins, identificaram a estrutura em
dupla hélice do DNA. Em 1993 é Francis Collins, investigador e professor na
Universidade do Michigan, em AnnArbor, que passa a dirigir o projecto. Deixa o
seu laboratório onde investiga uma doença genética, a fibrose quística, e
lança-se no desafio da “corrida” ao conhecimento do genoma humano.
O Projecto integra vários
centros de investigação nos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e
Japão. No princípio, o consórcio investiu na automatização da sequenciação, isto
é, foram construídos robots, que constituíram a participação japonesa no
projecto, e desenvolvidos programas informáticos e computadores altamente
eficientes, para analisar a avalanche de dados que iriam surgir.
O anúncio no início do ano
2001 da determinação da sequência completa do genoma humano inaugura uma nova
fronteira da ciência. O ser Humano entra num novo mundo, ao mesmo tempo,
fascinante e assustador. A ideia de mapear o genoma levantou desde o seu início
em 1985 uma série de controvérsias.
Preocupações
Alguns dos fundadores do
Projecto do Genoma Humano têm feito afirmações grandemente exageradas, que o
Projecto do Genoma Humano nos levará a compreender, ao nível mais fundamental, o
que é ser humano. Há contudo uma legítima preocupação de que semelhante ênfase
posto na constituição genética da humanidade possa distorcer o nosso sentido dos
valores, e levar-nos a esquecer que a vida humana é mais que a mera expressão de
um programa genético inscrito na química do DNA.
Se devidamente aplicado, o
novo conhecimento gerado pelo Projecto do Genoma Humano pode libertar a
humanidade do flagelo terrível de várias doenças. Mas se o novo conhecimento não
for usado sensatamente, ele encerra também a ameaça de criar novas formas de
discriminação e novos métodos de opressão. Ninguém estará imune, porque todos
fomos formados pela herança genética que recebemos dos nossos pais. Muitas
características, como a altura e a inteligência, não resultam apenas da acção
dos genes, mas de subtis interacções dos genes com o meio. Quais seriam as
implicações se a humanidade compreendesse, com precisão, a constituição genética
que, dado um mesmo ambiente, predispões um indivíduo para uma inteligência mais
elevada que outro indivíduo cujos genes estivessem dispostos de modo diferente?
O Projecto do Genoma Humano contém a promessa de que, em última análise,
poderemos ser capazes de alterar a nossa herança genética se assim o desejarmos.
E aí surge o principal problema moral: como poderemos garantir que, quando
escolhermos, escolhemos correctamente? Que semelhante potencial é uma promessa e
não uma ameaça?
Já uma vez no século
passado a implacável curiosidade dos investigadores científicos revelou forças
da natureza cujo domínio moldou o destino das nações e ensombrou as vidas de
todos nós. J. Robert Oppenheimer, o criador da bomba atómica,
declarou:
Sabíamos que o mundo não
voltaria a ser o mesmo…
Ao criar uma arma de
destruição maciça, Oppenheimer concluiu que:
... os físicos
conheceram o pecado; e esse é um conhecimento que não conseguirão
perder.
As opções que se colocam
perante os geneticistas são menos precisas, mais subtis, e implicam o risco de,
ao tentar fazer o bem, nos empurrar inadvertidamente para o pecado.
Consequências
Novas e mais variadas
opções
Uma vez conhecido o
programa inscrito pela natureza nos nossos genes, a tentação de alterar algumas
coisas aqui e ali podem ser muito bem irresistível. Se a questão moral
fundamental é a da escolha, de escolher correctamente entre as novas opções que
o Projecto do Genoma Humano abrirá então a primeira tarefa essencial é
identificar devidamente quais serão essas opções. Estaremos realmente no limiar
do "supermercado genético'', por exemplo, em que os futuros pais podem vir
comprar as características que gostariam de ver nos seus filhos?
Contudo, em algumas
sociedades, em que são preferidas as crianças do sexo masculino, os pais já têm
recorrido à tecnologia actualmente disponível para determinar o sexo de um feto
e abortar selectivamente os do sexo feminino.
Podem, futuramente,
seleccionar-se os fetos de acordo com os genes da inteligência. Os pais que
acharem desadequada a combinação genética, abortam e evitam problemas e nível da
formação escolar dos filhos, por exemplo.
A discussão sobre a
inteligência tem-se centrado até agora apenas nas motivações e acções dos
indivíduos como futuros pais. A sociedade pode estar também interessada, com o
fundamento que houvesse muito mais pessoas inteligentes. Mais isto envolve dois
perigos. Um deles é a questão elementar de que, tal como as pessoas, o carácter
humano é mais do que a inteligência. O "valor'' de um ser humano, tanto moral
como pessoal ou social, depende de muito mais que a sua capacidade intelectual.
Há a tendência para definir a inteligência de um modo relativamente restrito,
geralmente em relação com a aptidão escolar. Em termos da contribuição que um
indivíduo pode dar à sociedade no seu conjunto, há outros traços tão
importantes, se não mais.
A segunda objecção a
qualquer envolvimento da sociedade em geral em tal assunto baseia-se na questão
de saber quem deve controlar semelhante tecnologia e decidir quais as crianças
que devem nascer mais inteligentes que a média.
A sociedade e o Estado
podem, obviamente influenciar de muitos modos a decisão, mas isso é diferente de
ditar qual deve ser a decisão. Permitir a intromissão do Estado ou da comunidade
nesta área da vida privada com o objectivo de determinar os níveis de
inteligência dos filhos de cada um, representa seguramente una intrusão a que a
maioria deseja resistir. Mas a tecnologia para a conseguir uma descendência
seleccionada será dispendiosa e o seu racionamento será inevitável. Se as
decisões forem deixadas aos casais, então o racionamento será feito com base no
preço e os ricos terão acesso preferencial. Por muito injusto que isso seja,
pode ser preferível ao racionamento imposto pelo Estado.
A selecção das
características dos filhos não se limita necessariamente à
inteligência. Alguns progenitores podem começar a praticar o aborto selectivo
por razões insignificantes por exemplo, para terem filhos com olhos azuis em vez
de castanhos.
Uma sociedade em que tais
coisas possam acontecer, mesmo raramente, pode parecer profundamente
desagradável, com a vida humana reduzida a pouco mais do que uma especificação
genética e os pais a desejarem não já o melhor para os seus filhos, mas a
calcularem como obter o melhor filho. É difícil imaginar que este procedimento
ofenda ou prejudique alguém: pelo contrário, todos parecem beneficiados. As
únicas ``pessoas'' prejudicadas são os fetos a quem não foi permitido
nascer.
Devido à tentação de fazer
mau uso de todos os novos conhecimentos, a sociedade deve decidir se precisa de
estabelecer regras que impeçam os investigadores até de investigarem certos
caminhos.
Poder
Económico
A comercialização dos
produtos de Projecto do Genoma Humano será pelo menos tão importante e levantará
no mínimo tantos problemas de política e de moral pública como qualquer outro
aspecto do projecto. Enquanto os geneticistas podem procurar todos os 30000
genes humanos com o mesmo interesse, alguns deles serão comercialmente mais
importantes do que outros. A menos que sejam tomadas medidas antecipadamente,
podemos vir a encontrar-nos na situação paradoxal de ter de enfrentar graves
problemas sociais resultantes da abundância de uma proteína "cosmética''
resultante de um gene (por exemplo, aquele que pretensamente faz aumentar o QI),
enquanto continua o sofrimento humano porque ninguém está interessado em
produzir medicamentos para tratar algumas doenças hereditárias. Os problemas
morais surgem quando a terapia genética é aplicada não ao tratamento de uma
doença reconhecida como tal, mas ao reforço de traços existentes, não para
corrigir erros da Natureza, mas para melhorar a Natureza.
Mesmo sem estas
considerações comerciais, o rastreio genético e o aborto selectivo criam por si
mesmos novos problemas, porque se uma determinada doença se torna cada vez mais
rara, poderá haver menos interesse para ela. Grande parte da investigação médica
depende da caridade para obter fundos, e as instituições de caridade poderão ter
maiores dificuldades em angariar dinheiros se houver menos casos de doença. Em
última análise, muito do novo conhecimento gerado pelo Projecto do Genoma Humano
traduzir-se-á em produtos lucrativos vendidos no mercado. Serão os princípios
morais ou as considerações comerciais a decidir quais as descobertas a serem
exploradas? Embora a moral e o comércio não estejam necessariamente em conflito,
a questão das patentes sobre as sequências genéticas mostrou já as tensões
existentes.
Privacidade e
Seguros
Numa sociedade que
respeite o direito à privacidade e à propriedade privada, haverá coisa mais
pessoalmente privada do que a constituição do indivíduo? Pode-se portanto dizer
que a informação sobre a constituição genética de uma pessoa deve permanecer do
seu domínio privado. Mas a questão não é assim tão óbvia. As companhias de
seguros existem para obter lucros, e fazem-no seleccionando as pessoas que
seguram com base na perspectiva estatística de que os seleccionados são mais
saudáveis que a média. Se alguém representa um risco mais elevado, a resposta é
ou a recusa pura e simples do seguro, ou o aumento dos prémios. Todo o seguro é
uma aposta. Se eu sei que tenho predisposição genética para uma doença
cardiovascular, mas a companhia de seguros não sabe, estou em condições de mudar
os dados da aposta: posso obter um seguro muito mais favorável. Por outro lado,
a seguradora também pode tentar distorcer as estatísticas, recusando-se a cobrir
as pessoas diagnosticadas como portadoras de um risco genético. Em tal
circunstância, alguns observadores acham que a única via para ficar coberto
seria arranjar um emprego que incluísse uma pensão profissional e em que não
houvesse testes genéticos.
O Projeto do Genoma
Humano é, em primeiro lugar e antes de mais nada, um programa de investigação
para descobrir novos conhecimentos sobre a genética humana, e por isso a
primeira questão a encarar é a da manipulação desse conhecimento prende-se com
quem terá o direito a possuir informação sobre o DNA humano e quem deverá ter
acesso a essa informação. À primeira vista, pode parecer que não há propriedade
mais privada, nem informação mais pessoal e confidencial, que o esquema genético
de um ser humano. Mas um momento de ponderação mostrará que isso não é verdade.
Caso eu seja portador de uma doença genética potencialmente fatal que só se
manifestará daqui por duas décadas, a minha futura cônjuge terá certamente o
direito de saber isso agora, no interesse dos filhos ainda por nascer. Num
futuro próximo pudemos ter que mostrar os nossos testes genéticos ás
seguradoras. Haverá possibilidade de ocorrer rejeição por termos combinações
genéticas menos favoráveis? O diagnóstico genético produz também novos
conhecimentos, neste caso não uma compreensão genérica da hereditariedade
humana, mas informação específica sobre a herança genética de um indivíduo.
Também aqui há problemas do direito de acesso a essa informação: pessoa
portadoras de um gene anómalo podem estar em risco de gerar filhos com a
correspondente doença, ou de vir a desenvolvê-la mais tarde. O aspecto decisivo
é que o diagnóstico genético será feito meses, anos, e por vezes décadas antes
do aparecimento dos primeiros sintomas. Isso coloca um fardo quase intolerável
de previsão sobre os ombros dos futuros pais. Trará implicações caso o
diagnóstico é feito antes do nascimento da criança, ou do indivíduo, ou o exame
é efectuado num adulto em risco de contrair a doença mais tarde. Serão situações
que vão condicionar a vida do indivíduo para sempre.
Discriminação
Existe hoje, já um certo
tipo de discriminação genética nos locais de trabalho. O defeito hereditário do
daltonismo é um interessante exemplo, por ter sido detectado muito antes da
invenção dos métodos modernos de análise molecular. Alguns empregos são
interditos a pessoas com essa anomalia: nenhum daltónico pode ser piloto de
aviões comerciais. Aparentemente, esta parece uma boa razão para dizer que a
constituição genética de uma pessoa não pode ser sua propriedade confidencial,
afinal, é do interesse público que os aviões sejam pilotados com segurança e a
incapacidade para distinguir o vermelho e o verde pode constituir um obstáculo
sério. Mas o que importa aqui não é o facto de o portador do gene estar excluído
de um determinado emprego, e sim que a exclusão surge porque a anomalia está
efectivamente expressa: é a real incapacidade que leva à interdição. A companhia
aérea está interessada no efeito, não na causa, e o facto de o efeito poder
denunciar parte da constituição genética do indivíduo é informação
irrelevante.
A discriminação genética
deste tipo é aceite por duas razões: uma porque a incapacidade afecta a
segurança dos outros. A outra, simplesmente porque esses exemplos são
extremamente raros, porque o nosso conhecimento das anomalias genéticas é
relativamente escasso.
Existem diferenças
genéticas como a cor da pele, que têm estado associadas a enormes diferenças
sociais e económicas. Há ainda outras características humanas, como a
inteligência ou a orientação sexual, que têm sido consideradas como sendo
determinadas geneticamente (embora as provas sejam extremamente controversas), e
aqueles que não são conforme as normas ou expectativas da sociedade são
severamente prejudicados e discriminados em muitas sociedades. Os potenciais
empregados podem ser seleccionados mediante a sua não susceptibilidade a
determinada doença profissional. Isto pode ser usado de forma a prevenir que
indivíduos mais susceptíveis a determinado risco não sejam colocados em locais
perigosos, beneficiando assim os trabalhadores. Por princípio os locais de
trabalho devem ser melhorados de forma a não prejudicar os trabalhadores, e não,
escolher os trabalhadores de forma a não ser necessário melhorar o ambiente de
trabalho.
Conclusão
Os avanços no campo da
bioquímica e da engenharia genética trouxeram profundas alterações na forma como
o Homem passou a encarar a natureza. As recentes técnicas de selecção e
manipulação de genes têm vindo a ser aplicadas em diversas áreas e a agricultura
não é excepção.
O objectivo do processo de
mutação genética é chegar a um organismo cujas características sejam aquelas que
mais interessem ao produtor ou à sociedade. De acordo com a definição adoptada
na UE, um Organismo Geneticamente Modificado (OGM) é “um organismo cujo material
genético tenha sido modificado de uma forma que não ocorre por comportamentos
e/ou recombinação natural”.
Por entre avanços e
recuos, com a ética e os códigos deontológicos a impedirem maiores avanços
assiste-se na actualidade a verdadeiros fóruns a nível mundial de qual o papel a
desempenhar pelas temáticas abordadas, deverá a manipulação genética avançar ou
por seu turno, deverão ser resfriado todos os ímpetos que levem ao prolongamento
da vida humana? Estas dúvidas, nem com a realização do presente trabalho, nem
com o recurso e leitura atentas de vários artigos científicos consegui obter uma
opinião de cariz consensual, sendo que, a minha opinião estritamente pessoal,
leva-me a concluir que a manipulação genética deverá prosseguir os fins pelos
quais foi concebida para, dessa forma, a cura de doenças, a criação de novos e
mais eficazes medicamentos, entre outras vantagens elencadas no presente
trabalho, sejam uma realidade.
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