18 outubro, 2012

É a cultura que nos faz ser quem somos ou personalidade é só herança genética?

Como evolui a personalidade no bebé?

A formação da personalidade tem início a partir do nascimento. Assim, os primeiros anos de vida de uma criança são decisivos para a génese de sua futura personalidade.
Neste período são delineadas as principais características psíquicas, a partir da relação da criança com os pais, pessoas próximas, objectos e meio ambiente. Ao nascer, a criança iniciará um longo caminho e é como se iniciasse a escrita de um livro que ao surgir trazia apenas algumas páginas impressas.
Podemos pensar que a herança genética não marca a futura personalidade das crianças e que esta se inicia apenas após o nascimento, contudo existem já algumas características nos bebés com as quais os pais se identificam. Bastará olhar para um berçário de recém-nascidos e atentamente observar como são diferentes as suas posturas. A forma como dormem, como recebem o alimento ou, até, como reagem às primeiras carícias.
A influência do meio-ambiente
O bebé receberá as primeiras sensações mal chega ao mundo. A luz forte, o frio, o desconforto... depois... o calor dos braços da mamã e o prazer de poder, pela primeira vez, mamar... saboreando o adocicado do leite e a sua temperatura aconchegante. Aos poucos, vai assimilando o conhecimento das primeiras sensações e de todas as emoções que vai sentindo dia após dia. Com o tempo, irá reagindo de acordo com as experiências já vivenciadas e aprenderá, com o exemplo dos que o rodeiam, outras formas de reagir.
São os pais quem exerce a principal influência sobre o desenvolvimento da personalidade da criança. A criança estabelece uma relação com o mundo vivenciando os acontecimentos através do que ela escuta, observa e percebe e são os pais e/ou outros cuidadores que proporcionam as aprendizagens destes acontecimentos diários.
Todavia, a criança não se pode considerar um “produto/ personalidade” resultante apenas das imitações e aprendizagens dos familiares/meio. As primeiras páginas do seu livro nasceram com ela e não podem ser reescritas. Como exemplo, poderemos observar o comportamento de dois gémeos monozigóticos.
Desde que nascem, e muito embora sejam criados pelos mesmos pais e de forma idêntica, podem ter padrões de comportamento muito diferentes. A personalidade é assim um conjunto de características psicológicas que determinam a maneira como o indivíduo interage como seu ambiente.

Existindo tantos padrões de personalidade quantas forem as diferentes histórias de interacção de uma criança com seu meio afectivo, social, cultural, bem como sua história genética. É durante a formação da personalidade e através das influências do meio-ambiente que as crianças assimilam as normas morais que regulam o seu comportamento social.
A aprendizagem das regras sociais é determinante para um saudável convívio em grupo e para actuar nas mais diferentes situações do quotidiano. Pois estes padrões de comportamento, uma vez fixados, tendem a repetir-se da mesma forma em idênticas situações. É também este conjunto de padrões que definem a nossa personalidade, que nos vão fazer distinguir dos nossos pares definindo e caracterizando a nossa identidade.
As manipulações externas
Como anteriormente referimos, a personalidade é o conjunto da herança genética e das experiências, emoções e sensações dos primeiros anos de vida. É durante a primeira infância que a criança adquire os primeiros padrões de comportamento, mas a formação da sua personalidade ainda não está consolidada. Sabemos que a criança apresenta uma enorme tendência para imitar o adulto, para aprender com ele a avaliar as pessoas, os acontecimentos e as coisas. Mas, também sabemos que estas imitações não acontecem apenas com os adultos mais próximos.
A influência dos primeiros amigos, o desejo de pertencer a um grupo podem influenciar a personalidade com novos padrões e valores. Muito embora os valores interiorizados não se percam na sua essência, é natural que a personalidade venha a ser alterada por novas influências. Daí que a máxima “ junta-te aos bons, serás um deles; junta-te aos maus, serás pior do que eles” possa ter alguma razão.
As crianças após os 3/4 anos de idade revelam grande interesse pelos modelos de comportamento e as regras sociais e morais definem o comportamento diário da criança. Se inicialmente era o adulto quem exigia da criança um comportamento adequado às regras, agora é a própria criança que começa a avaliar a sua atitude de acordo com as regras. Contudo, a criança não se limita a simplesmente obedecer ao adulto, mas procura assimilar essas regras.
No Jardim-de-Infância é frequente ver uma criança queixar-se do comportamento de outras. Mais do que um desejo de denunciar, trata-se de um pedido para a educadora confirmar a existência de uma regra obrigatória para todos. É importante que os pais e educadores estejam atentos às amizades dos seus filhos/educandos no que respeita aos seus amigos e companhias pois, a fragilidade da sua personalidade pode ser facilmente manipulada.
Personalidades
Partindo do princípio que não existem personalidades “fortes” ou “fracas”, mas sendo esta definição comummente utilizada na gíria falaremos de algumas situações típicas. De uma forma geral, dizemos que uma criança tem uma personalidade “forte” quando sabe o que quer e não é influenciável. Contudo, os pais dizem muitas vezes que quando os seus filhos fazem birras sucessivas, que estas são desculpáveis porque a criança tem apenas uma forte personalidade.
Muito embora, a priori, estas situações possam ser influenciadas pela personalidade da criança, isto não significa que a criança tenha uma personalidade “forte” e que as suas birras não se devam essencialmente a uma deficitária interacção entre os pais ou familiares e a criança. A personalidade “forte” não se deve caracterizar pela teimosia ou pela fanfarronice, tal como a personalidade “fraca” não se pode definir pelo choro ou pela timidez.
Isto são apenas traços de personalidade da criança consequentes de uma má transmissão de padrões de comportamento e valores sociais. A qualidade das relações entre pais e filhos exerce uma influência determinante na formação psicológica destes. A partir dos primeiros meses de vida, os pais e responsáveis pela educação das crianças devem dedicar toda a atenção ao desenvolvimento da sua auto-estima.
É imprescindível oferecer muito afecto e carinho, estimular, elogiar, motivar, para que as crianças construam a sua personalidade com base num elevado amor próprio. Da mesma forma, as crianças devem ter toda a liberdade para expressar emoções: alegria, afecto, tristeza, medo e raiva. Se a criança for levada a reprimir as suas emoções ou não tiver alguém capaz de as conter, poderá desenvolver uma personalidade neurótica, plena de tensão, ansiedade, angústia, depressão.
A influência do ambiente familiar, a educação, aliadas à herança genética vão passo a passo construindo uma personalidade que após a juventude estará basicamente consolidada.
 
Texto: Maria Martins
Revisão científica: Filipa Lourenço, Psicóloga Clínica, Neuropsicóloga (ESTIMULOPRAXIS - Centro de Desenvolvimento Infantil)

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