25 outubro, 2012

Porque é difícil escolher?

Estudos recentes realizados por neurocientistas mostram que a tomada de decisões é controlada por duas regiões diferentes no córtex pré-frontal: o córtex pré-frontal dorsolateral e o córtex pré-frontal ventromedial

O sonho comanda a vida!” Esta famosa frase de António Gedeão poderia ser adaptada para “O cérebro comanda a vida!”. De facto, tudo o que fazemos, consciente ou inconscientemente, é comandado pelo nosso cérebro, incluindo tomar decisões mais ou menos difíceis.
Há uma zona do cérebro, o córtex pré-frontal, que é responsável pelo controlo dos impulsos, escolha racional entre o certo e errado e previsão das consequências das ações e, finalmente, tomada de decisões. Por esta razão, pessoas com lesões no lobo frontal, que aloja o córtex pré-frontal, atuam por vezes impulsivamente e têm problemas na tomada de decisões.
Como é que o cérebro decide? Estudos recentes realizados por neurocientistas mostram que a tomada de decisões é controlada por duas regiões diferentes no córtex pré-frontal: uma, o córtex pré-frontal dorsolateral, determina o risco versus recompensa das escolhas, e outra, o córtex pré-frontal ventromedial, regula como iremos finalmente decidir.
Pessoas deprimidas, por exemplo, têm dificuldade em avaliar o risco versus recompensa das escolhas (todas as opções lhes parecem igualmente pouco atrativas) e tomar decisões torna-se impossível
A lesão do córtex pré-frontal dorsolateral parece afetar profundamente o controlo cognitivo da tomada de decisões. Esta região estabelece um circuito com o córtex cingulato anterior e, em conjunto, permitem manter a atenção, alterando-a, quando necessário, para uma dada tarefa e olhando para escolhas erradas de forma a corrigi-las. Por outro lado, o córtex pré-frontal ventromedial avalia o risco versus recompensa através de um circuito que inclui o córtex orbitofrontal e frontopolar. Quando a lesão é a este nível, a linguagem, perceção e inteligência não são afetadas, mas a capacidade de equilibrar os riscos com a recompensa está alterada, o que pode levar à tomada de decisões erradas.
Um dos mais famosos doentes em neurologia, Phineas Gage, um operário ferroviário que sobreviveu com um cabo de ferro atravessado no crânio, danificando esta região cerebral, sofreu alterações de personalidade após o acidente. O equilíbrio entre estes dois circuitos cerebrais é necessário para que funcionem corretamente em conjunto. Se um deles falha, surgem problemas.
A compreensão da forma como o cérebro controla a tomada de decisões pode ser de extrema utilidade em situações em que as áreas cerebrais envolvidas neste processo deixam de funcionar corretamente, como é o caso das doenças psiquiátricas, que geralmente envolvem a tomada de decisões erradas. Pessoas deprimidas, por exemplo, têm dificuldade em avaliar o risco versus recompensa das escolhas (todas as opções lhes parecem igualmente pouco atrativas) e tomar decisões torna-se impossível.
O desenvolvimento do córtex pré-frontal ao longo da vida afeta também a tomada de decisões. Estudos de imagiologia cerebral funcional mostraram que os adultos, comparativamente aos adolescentes, têm maior atividade cerebral no lobo frontal, envolvido no controlo das emoções e dos impulsos, distinção entre o que está certo e errado e ainda análise das relações causa-efeito, e menor atividade noutra zona cerebral designada amígdala, que faz parte do sistema límbico e está envolvida nas reações instintivas.
Menor atividade do lobo frontal pode conduzir a baixo controlo do comportamento e das emoções enquanto uma ativação excessiva da amígdala pode estar associada a tomada de decisões emocionais e impulsivas.
Estes estudos sugerem que enquanto os adultos podem usar processos racionais na tomada de decisões, o cérebro dos adolescentes ainda não está equipado para pensar do mesmo modo. O resultado destes estudos não significa que os adolescentes tomem sempre decisões irracionais. Em vez disso, sugerem que eles necessitam de orientação enquanto o seu cérebro se desenvolve, especialmente para os ajudar a controlar os impulsos emocionais e tomar decisões racionais.
Assim, os pais e educadores têm um papel essencial neste processo através da comunicação e estabelecimento de limites bem definidos.
 
 Cláudia Fragão Pereira, Investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular, e Investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

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