25 outubro, 2012

Os dois lados do cérebro, o direito e o esquerdo: o que dizem de nós?


Embora usualmente o hemisfério esquerdo seja dominante para a linguagem, o hemisfério direito tem competências significativas na sua compreensão


Um dos aspetos em que as diferenças funcionais entre os hemisférios direito e esquerdo são mais evidentes diz respeito à compreensão e processamento da linguagem. As lesões do hemisfério direito só muito raramente conduzem às alterações da linguagem chamadas afasias.
Em vez disso as lesões do hemisfério direito estão frequentemente associadas a severos problemas viso-espaciais, como por exemplo a incapacidade de copiar uma linha de um desenho. Por esta razão, de um modo simplista, o hemisfério esquerdo é muitas vezes designado o hemisfério verbal enquanto o direito é o hemisfério espacial.
Os dois hemisférios estão ligados entre si por vários feixes de axónios conhecidos como comissuras, das quais a maior é o corpo caloso, formado por cerca de 200 milhões de axónios que ligam os dois hemisférios entre si.

A secção do corpo caloso permite analisar separadamente a função de cada um dos hemisférios. Curiosamente as primeiras experiências feitas nestas condições pelo grupo de George Sperry nos anos 50 mostraram que não ocorriam alterações comportamentais e que os animais tinham uma coordenação de movimento, reação a estímulos e capacidade de aprendizagem aparentemente normais. Contudo observaram que os animais por vezes atuavam como se tivessem dois cérebros separados.
A cirurgia do corpo caloso realizada em certos casos de epilepsia humana severa mostrou que após a secção do corpo caloso os doentes, embora aparentemente normais, mostravam uma assimetria na capacidade de verbalizar respostas a questões colocadas separadamente aos dois hemisférios. O hemisfério direito manifestava incapacidade de descrever qualquer objeto colocado no campo visual esquerdo, mas mantinha a capacidade de ler e compreender números, letras e palavras curtas desde que a resposta fosse não-verbal.

No entanto os doentes eram melhores na resolução de puzzles complexos com a mão esquerda e em perceber “nuances” de sons.
Estes estudos mostram que os hemisférios atuam como dois cérebros independentes, com diferentes capacidades de linguagem, que controlam os dois lados do corpo. Embora usualmente o hemisfério esquerdo seja dominante para a linguagem, o hemisfério direito tem competências significativas na sua compreensão.
Presumivelmente no cérebro intacto o corpo caloso permite interações sinérgicas entre os dois hemisférios para a linguagem e outras funções.
 
Catarina Resende de Oliveira, Presidente do Centro de Neurociências e Biologia Celular, e Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

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